Quando a noite chega é sinal que se aproxima a hora de tomar meus medicamentos. É quando os demônios resolvem sair para brincar. Os jardins suspensos desmoronam com o peso dos meus olhos. As sombras ganham formas e minha mente se torna um campo minado na qual devo pisar com cuidado. Um único pensamento inapropriado é capaz de desencadear uma sequência de explosões que nem mesmo os remédios podem parar.
Viver na minha cabeça é como viver com uma armadura de aço de cem toneladas. Tudo ao seu redor acontece muito rápido, mas é impossível acompanhar o mesmo ritmo. Ao tentar fugir disso você tropeça e o peso lhe sufoca. É um labirinto sem fim, mas não é permitido parar de procurar a saída. E é claro, tem o problema do tempo, ora é sol ora é lua.
É um lugar hostil e assustador que nem mesmo eu gostaria de conviver. Mas aqui estou, condenado a passar os meus dias e noites sem direito ao intervalo. Tendo que sofrer com o peso de “uma frase mau dita” ou com a preocupação de manter as engrenagens fazendo tic e tac.
Imagine-se então na base de uma montanha com uma mochila cheia de pedras às costas e o topo íngreme é seu alvo final. Cada passo dado é uma palavra aqui escrita, não importa quanto eu force, quanto eu resista, eu nunca chego ao final e sempre caio exaurido. Sempre paro aqui.