Quarta feira. Sirene. Movimento. Barulho.
Sentado à mesa do refeitoro simplesmente observava as pessoas. Já era o segundo dia que matava as primeiras aulas, estava de saco cheio. Então de repente algo estranho começara a acontecer. O garoto quieto que usava óculos e era enxotado de todos os grupinhos sociais da escola agora não parecia o mesmo. Estava enfurecido. O dia ensolarado ia se tornando aos poucos um cenário apocalíptico. As nuvens cresciam e se juntavam com uma velocidade que espantou a todos da escola e da cidade. A escola com grandes estruturas era engolida pela penumbra que surgia. A cada segundo o vento aumentava sua velocidade, espalhando as folhas caídas por todo o pátio. Não era algo comum na cidadezinha, mas foi um pensamento unanime o de que era um furacão se aproximando. Na verdade as nuvens negras já começavam a ganhar uma forma cilíndrica sobressaltada no céu recém-transformado. As árvores ameaçavam cair, os fios elétricos oscilavam velozmente, lixeiras eram derrubadas, areia e folhas ganhavam formas de pequenos redemoinhos, lembrando as histórias do saci. Alunos, professores e servidores correram aos portões de saída em desordem. Porém, imediatamente as portas de aço se fecharam com grande violência, decepando o braço de um jovem ao meio que atravessava a passagem. Apesar da bagunça foi possível escutar os ossos serem torados e o sangue espirrar como uma mangueira com o orifício semicerrado por o dedo de alguém que rega as plantas. Do lado de fora o caos continuava, galhos quebravam os para brisas dos carros dos professores.
Enquanto todos gritavam e corriam, o jovem nerd continuava sentado à mesa. Elogiado por alguns, invejado por muitos e amado por seus poucos amigos, este rapaz passara por muita coisa. Há quatro anos sofre bullying e ameaças dos alunos “populares” de onde estuda. Além disso, semana passada havia sido estuprado por seu padrasto. O que fez com que a raiva e tristeza só aumentassem. Sem conseguir mais conter essa gama de sentimentos, acabou por se entregar totalmente à fúria. E esta o fez evocar o tornado e fechar os portões da escola, apenas com a mente. E de repente, como se surgisse da terra, uma energia lhe subiu da planta dos pés à cabeça. Nessa trajetória era deixado um rastro negro em sua pele, semelhante aos caminhos formados por a água transbordada de um vaso. Pouco tempo depois seus olhos foram enegrecidos, totalmente, transformando assim sua fisionomia de triste para uma que demonstrava satisfação.
A força do vento aumentava e agora a gravidade já era abalada, fazendo cadeiras e mesas levitarem levemente apesar da agressão do furacão. Vez ou outra o céu era cortado por inúmeros raios. Nas paredes era perceptível a degradação da cerâmica, semelhante à ação de um ácido, segregando partícula por partícula. Rachaduras surgiam, desprendendo enormes blocos de concreto que eram arremessados contras as pessoas, lhes partindo o crânio e expondo seus conteúdos encefálicos. O pavor só era alimentado com todo esse sangue. O rapaz, outrora fraco e desprotegido, agora ostentava força e poder se erguendo do solo e flutuando elegantemente no centro do pátio, visível a todos. Com os olhos banhados de lágrimas de medo, aqueles que lhe agrediam, o fitavam incrédulos e submissos. É incrível como as pessoas mudam de pensamentos em momentos extremos. Agora muitos lhe imploravam perdão e pediam para serem poupados, pobres estúpidos que não tinham misericórdia. O poderoso aluno simplesmente os ignorou como havia sido ignorado por todos. Um grito foi ecoado, de dor, desespero e ódio e as estruturas da escola foram desintegradas, sucumbindo os estudantes e todos que ali estavam sob os escombros. Restando somente corpos ensanguentados, ossos esmagados e mentes fúteis destruídas.
De longe o garoto que estava a dois metros do chão, observou seus únicos três amigos verdadeiros, intactos, sem nenhum arranhão. Apenas disse obrigado e partiu em direção ao céu negro.
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