quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Ilusão


Todo mundo tem um lugar mágico onde se sente seguro e em paz. Pois é, comigo não era diferente. De todas as formas de fugir da realidade esta era a minha favorita. Todos os dias da semana eu era forçado a vê-la, mesmo contra meu querer, mas esse era o problema, eu queria. Sim, eu queria e ansiava para poder ver ela novamente. Era como uma santa em seu pedestal, eu observava de perto seu jeito, porém, para mim ainda era longe demais. Nunca a física permitiria alguns passos se tornarem tão distantes como milhas. Na verdade a física não estava nem ligando para mim e vice-versa. Sempre fui ruim em cálculo, uma vergonha. A questão é que me sentia incomodado com essa situação, ora de forma positiva, ora negativamente, isso me deixava louco. E quem não se sentiria assim em meu lugar? Um garoto mais ou menos inteligente que era mais tímido que uma laranja, sem contar que a beleza se resumia em “você é legal”. 

Já por outro lado, ela sempre fora e ainda é muito linda e um pouco boba de uma maneira cativante. Seu cabelo escorria dividido pelo rosto e repousava sobre os ombros, perdoe o clichê, quase como uma cachoeira. Os olhos claros eram como esmeraldas ou diamantes, não sei ao certo, mas era de tirar o fôlego. Quando recebia a luz do sol só aumentava a beleza. Será que só eu reparava nela assim? Duvido. Sua formosura era digna de ser exibida a todos. O jeito moleca era incrível. O andado, o sorriso, a risada. Tudo parecia radiar. A cada segundo de vista era uma confusão declarada na minha mente. Tantos desejos, tantos sentimentos. No começo era fácil ignorar, entretanto, a cada dia que passava eu percebia mais detalhes, mais qualidades. Foi aí que percebi que estava ferrado. Já havia caído na teia e estava pronto para ser embrulhado.

Com tudo isso circulando em meu sangue era difícil negar favores a ela. Nunca fui popular, então seria uma boa oportunidade “servir” alguém tão bem vista. Nos primeiros meses até que foi legal, contudo, minhas “tarefas” estavam banais. Eu acreditava que receberia algo em troca, um abraço, um beijo. Mas se resumia em sorrisos e obrigados secos. Sempre a considerei uma princesa e eu era o sapo que ela não queria beijar. Confesso que nunca havia falado o que sentia para ela, não tinha coragem, era capaz de ela rir ou até bater em mim. O silêncio se tornou meu inimigo e minha mente meu carrasco.

E se eu tivesse contado?

E se eu fosse mais ousado?

Jamais irei saber. Não há o amanhã, do mesmo modo que não se pode ler um livro sem ser escrito. Não poderia saber. Quanto a isso só me restara uma eterna interrogação. Uma das poucas certezas vigentes era o qual não existia o “eu e ela”. Sabia que nunca iria acontecer. Sabia o final do filme e sabia que era triste, mas continuei assistindo e sofrendo. Depois de muito tempo, não lembro ao certo por que, despertei desse sonho, dessa vã expectativa positiva. Só então percebi o quão fui idiota, quanto tempo havia perdido. Com isso fui vendo que o sorriso dela ainda era bonito e ainda seria, mas não para o meu deleite e sim para meu massacre. Ela sempre fora uma sereia e assim como na mitologia, ela me encantara e estava me arrastando para o fundo do mar gelado. O problema é que mesmo livre de seus feitiços ainda ficaria com essas marcas por um tempo.

Hoje olho no espelho e não me vejo o mesmo, não encontro mais vestígios do que um dia fora um sonho. Quer dizer, aquilo fora uma insípida ilusão.

Nenhum comentário:

Postar um comentário