quarta-feira, 29 de agosto de 2018

Labirinto



        Sirenes e gritos me despertam de um sono profundo, tão profundo que não lembro de sonhar nada. Sinto meus pulmões pegarem fogo e meu coração batendo forte contra minhas costelas e de repente abro meus olhos me deparando com paredes enormes. Não reconheço o lugar, muito menos as pessoas que estão ao meu redor, mas consigo observar um enorme corredor que termina com uma parede do tamanho de um prédio de 3 andares. Tento falar, mas minha respiração está tão descompensada que só consigo emitir um som agudo. Me sinto como se tivessem colocado alguma droga na minha bebida e realmente a última coisa que lembro é de estar em um bar com meus amigos, mas não vejo nenhum deles. As pessoas ao meu redor, crianças, jovens e idosos começam a moverem-se adiante no corredor, alguns caminhando aos tropeços, outros correndo desesperados. Não está muito claro, parece ser de madrugada e olhando lá no fundo vejo algumas pessoas desaparecerem. Curioso, caminho com alguns adultos até o final do corredor e subitamente percebo que há duas saídas em ambas as laterais, bom pelo menos eu pensava que eram saídas até observar outros longos corredores. Ainda não conseguia respirar normalmente, mas já conseguia falar um pouco, tentei me comunicar com um garoto que soluçava ao ver ossos humanos em um dos cantos do corredor a direita. O estranho era que ele não falava minha língua e eu não tinha noção que idioma era aquele que ele falava em meio aos prantos. Eu estava totalmente atordoado e perdido, mas continuei andando e me deparei com um corredor sem saída alguma, de repente parei congelado de pavor, comecei a imaginar que estávamos em um labirinto, o que me deixou estarrecido.

        Depois de alguns minutos sentado no chão tentando me controlar voltei para o corredor onde acordei e segui pela esquerda. Eu ouvia gritos e mais gritos de horror e desespero. Decidi então correr ao invés de caminhar. Eu passava entre algumas pessoas tentando me comunicar, mas todos falavam idiomas que eu não compreendia. Comecei a pensar que não havia comida ou água a minha disposição e resolvi voltar a andar para poupar energia. Depois de andar algumas horas me deparei com um muro onde havia alguns desenhos e símbolos que pareciam ter sido escritos com sangue e o mais curioso, havia no lado oposto uma parede que era coberta totalmente por pedaços de espelhos. E ali fiquei sem saber ao certo quanto tempo observando meu reflexo em retalhos. Voltei a caminhar e ao passar por algumas crianças as reconheci da minha infância, eu havia estudado com elas há muitos anos, como era possível? Falei aflito e dessa vez compreendi uma delas que falou sombriamente em inglês “Come play with us at the end of the line”. Aquela frase me animou e me assustou ao mesmo tempo, pelo menos podia me comunicar com alguém, mas o que ela queria dizer como “venha brincar conosco no fim da linha”? Abruptamente senti meu coração pulsar ferozmente e olhando ao meu redor percebi que não só as paredes, mas o chão e estranhamente o céu noturno também estavam rachando. Aquilo ferrou com minha mente, eu não compreendia o que estava acontecendo. Literalmente pedaços do céu estava caindo e onde os mesmos estavam só restava uma luz branca muito forte. Comecei a correr sem direção evitando os buracos formados no chão, era como se a realidade estivesse se desfazendo. Correndo desesperado me deparei com um beco sem saída, ao olhar para trás vejo a mesma criança com quem falei, mas ela estava diferente, no lugar de seus olhos saíam cobras, uma em cada orbita ocular. Com uma voz diabólica ela não parava de repetir “Come play with us at the end of the line”. A essa altura metade do cenário ao meu redor já tinha se desfeito e eu mal conseguia enxergar o resto devido a forte luz branca. Comecei a ouvir uma voz de uma mulher dizendo “se afastem, vou tentar novamente!”. Eu só conseguia pensar que estava realmente enlouquecendo. Senti uma forte pontada no peito e de repente tudo ficou branco. E do branco ficou tudo preto. 

        Dolorosamente abro meus olhos e minha visão embaçada vai aos poucos se ajustando e focando alguns rostos ao meu redor. Percebo então que os rostos estão cobertos. São médicos e enfermeiras. Só consigo ouvi eles falarem alguma coisa e apago novamente. 

        Ao abrir os olhos novamente vejo todos os meus amigos ao meu redor. Com uma voz fraca pergunto o que aconteceu e um deles fala “Cara, você está bem? Você sofreu um acidente dirigindo bêbado e estava apagado há três dias!”. Muito assustado e curioso pergunto: “Então eu não estava em um labirinto?”. Eles riram e perguntaram se eu tinha sonhado com isso, afinal os médicos precisaram me reanimar e tentaram várias vezes. 

        Vez ou outra fico me perguntando se aquelas imagens do labirinto eram ou não reais, pois as sensações foram. Mas eu não sei ao certo, vai ver era só minha alma que estava perdida.

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